Paulo Cássio Pereira
(professor de História)
É comum no cotidiano as pessoas que não querem se envolver citar o clichê que
“religião, futebol e política não se discute”, mas muito pelo contrário, na nossa cultura estes três itens também são importantes nos nossos relacionamentos, lógico respeitando sempre o diálogo no campo das ideias.
Em relação à religião, na última semana o IBGE, com base nos dados no Censo de 2022 publicou no dia 06/06 uma pesquisa interessante sobre a “Evolução das Religiões no Brasil” , para maiores detalhes, sugiro entrar no site do Instituto, porque o meu objetivo aqui é fazer uma analogia da política com o futebol e a religião nas ações da política
local. Por isso não vou aprofundar sobre a religião em si, mas é preciso fazer um registro de uma rápida análise, feita por um amigo via zap e segue um fragmento do seu pensamento transcrito a seguir : “…a gente tem que considerar que nos dias de hoje, ainda é status você dizer que é católico ou evangélico e é um estigma você se apresentar como um adepto de religiões de matrizes africanas ou religiões orientais, especialmente do oriente médio… , tem uma camada da população que está usando Israel como mote, como motivo para apregoar aquilo que se deseja, esta esfera é da extrema direita. Mas enfim, quando a gente está em um grupo ecumênico … num evento qualquer, muito aberto e democrático você pode falar que você é de qualquer religião que todo mundo vai respeitar, tem tolerância e tudo mais. Mas, se você vai para um determinado tipo de reunião, às vezes uma reunião política, às vezes uma reunião de debate público, às vezes uma reunião de bairro… e dependendo do lugar onde você está, se você se apresenta participante de outra religião que não seja católica ou evangélica, há já um preconceito, uma discriminação sobre a sua possível fala e sobre o seu posicionamento.
Então há muito a ser vencido. A pesquisa demonstra que já avançou, tem amplos setores da sociedade que já avançaram nisso, mas tem cada vez mais a tentativa de demonizar as religiões de matrizes africanas e outras religiões que estão ligadas ao Islã, ao povo mulçumano. Então a pesquisa traz um alento, mas a gente tem que tomar o cuidado de olhar todos os lados , ver tudo, o contexto e ver todos os ângulos possíveis pra gente poder analisar os dados que são apresentados aí…” (C.AM.)
Após esta fala muito pertinente sobre a religião, agora vamos para a política: Recentemente ocorreu um fato que parece ser inédito e bem estranho no cotidiano da atuação política. É que o atual prefeito municipal, convidou um vereador para ser o seu líder político na câmara. Ocorre que o vereador que aceitou o convite não é da base aliada ao prefeito. O vereador foi eleito numa articulação do partido de oposição, inclusive não votou no atual prefeito e fez campanha contra , apoiando o candidato a prefeito do seu partido. A questão causa espanto porque, por um lado o prefeito deixou de prestigiar os seus vereadores da sua base aliada que tanto trabalharam e carrearam votos para a sua eleição. Depois do prefeito eleito, foram preteridos em favor do vereador da oposição. Por outro lado, o vereador da oposição que aceitou ser líder do governo, no mínimo , infringe uma questão ética partidária, deixando seus companheiros filiados de partido constrangidos.
Como exemplo vamos para a analogia com o futebol: Imagine que um time entrou em campo, precisa muito ganhar o jogo e no intervalo do jogo, nos bastidores, o técnico do time adversário convida o jogador do outro time para ser o “capitão” do seu time, talvez prometendo altos voos, um plano de carreira pessoal muito melhor e o jogador aceita para a surpresa e consternação de todos os companheiros do seu time que o lançou nas bases . Agora, então o time adversário terá 12 jogadores contra 10 do outro time, só que o jogador continua com a mesma camisa e o juiz não pode fazer nada. O jogador vai fazer umas jogadas no meio do campo pra agradar a torcida, mas na hora de decidir o gol contra o adversário, vai chutar pra fora , a cabeça está de um lado e o corpo está do outro, desengonçado poderá até mesmo ocorrer o perigo de fazer gol contra.
Como ficaria nas concentrações com a equipe, com os outros importantes jogadores, aqueles jogadores “formiguinhas” que atuam no jogo de forma importante mas não aparecem nas mídias e aqueles que estão nas reservas mas ajudaram a carregar e construir a história do time? Será que todos ficariam tranquilos de falar tudo o que pensam nos treinamentos, nas articulações técnicas , nas estratégias e nas jogadas ensaiadas? O time ficaria a vontade e confiaria no jogador capitão do outro time jogando no seu time ? E o outro time agora capitaneado por ele confiaria em articular juntos?
Estaria praticando “ fogo amigo dos dois lados”? Neste sentido, a propósito, como o líder do governo vai ter brilho nos olhos e orgulho para defender com toda a sua energia e entusiasmo o governo que ele representa, assim como também com o seu próprio partido?
Já sabemos por inúmeras razões que um jogador ou um técnico não pode ser maior que o time e o clube. Ele é um integrante, uma peça na máquina do coletivo. Mas muitas vezes na política, vemos que quando alguns filiados possuem cargos eletivos, eles se acham diferentes e com mais direitos políticos que os outros; Se encastelam no gabinete, bem longe dos filiados que trabalham durante a semana, decidem coisas importantes pelo celular e até mesmo uma tentadora proposta de uma carreira pessoal (importante registrar aqui que partido não é empresa, mas sim um programa coletivo, de participação democrática com todas as comissões importantes, inclusive a comissão de ética). Depois comunica numa reunião pra fazer o jogo político, muitas vezes se faz de vítima, fica isento de críticas numa redoma e ainda são mimados pelas pessoas ao seu redor que se anulam, omitem e mesmo constrangidos seguem o jogo como se fosse tudo normal e por razões que fogem ao meu entendimento. O partido que deveria se fortalecer nos debates e nas decisões internas é levado a reboque por ações monocráticas de alguns individualistas.
Quando o político perde a autocrítica, segue o individualismo de carreira da própria cabeça,sem ouvir com poder de decisão os seus companheiros ao contrário do que pede o programa do partido ele não está contribuindo com a excelência da política e da democracia; Está sim alimentando o seu ego, uma política do jogo do negacionismo e indiretamente atuando mesmo de forma que seja no seu microcosmo, podendo influenciar contra as instituições democráticas e indo contra o próprio povo que o elegeu, ao não ter coragem de ter lado, se demarcar, não assumir riscos e atitudes.
Faz parte da vida do verdadeiro político a avaliação do ônus e do bônus e ele tem que encarar isso como consequência natural dos resultados colhidos das suas próprias ações.