Poços de Caldas, MG – Com três olimpíadas no currículo, diversos títulos de campeão brasileiro, títulos internacionais conquistados em várias partes do mundo e nada mais a provar. Nada a provar no BMX, mas Renato Rezende acaba de colocar para si um novo desafio, buscar novos horizontes em uma nova modalidade de ciclismo. Recentemente, ele migrou para o mountain bike e já vem mostrando que pode chegar tão longe quanto no bicicross. O Mantiqueira conversou com o ciclista, que se mostrou muito motivado com os novos rumos da carreira, mas claro que vem sentindo um pouco a diferença, já que enquanto uma prova de BMX chega a durar apenas segundos, no mountain bike é preciso bem mais tempo pois uma competição completa leva cerca de uma hora e meia para ser concluída. Rezende faz parte da equipe Loop de Ciclismo.
Mantiqueira – Por que a decisão de não seguir no BMX? Uma quarta olimpíada saiu de seus planos?
Renato Rezende – Disputar uma olimpíada sempre é a meta de qualquer atleta. Fiquei muito feliz com meu desempenho em Tóquio, a gente já falou sobre isso e tive o meu melhor desempenho, o melhor da história do BMX brasileiro em olimpíadas, mesmo com uma dificuldade muito grande.
Mantiqueira – Quais dificuldades?
Renato Rezende – Imagina, você está prestes a ir para os jogos, mas a pandemia no seu país está no auge, você fica preso em casa sem poder treinar enquanto os outros competidores estão treinando normalmente e competindo em alto nível. Quando fui liberado para treinar na pista não tinha hospitais e isso era uma preocupação, já que se tivesse uma lesão não teria para onde ir. Isso sem contar a dificuldade de saber se conseguiria ir para as provas finais que valiam pontos. No final, mesmo ficando quinze dias de quarentena sem treinar, deu tudo certo e foi tudo muito intenso e fiquei muito feliz com o resultado. Depois voltei ao Brasil e resolvi tirar o resto daquele ano para refletir sobre o futuro, descansar e ficar um pouco com minha família.
Mantiqueira – E a mudança para o Mountain Bike. Como veio esta decisão?
Renato Rezende – Foi uma decisão tranquila, comecei a migrar para o Mountain Bike em janeiro, a grande diferença é a bike, bem diferente da usada no BMX, uma bike aro 29, conta com suspensão, marcha, canote retrátil, mas a grande diferença é a prova, pois fiquei acostumado com provas de BMX de 40 segundos e a prova olímpica do mountain bike leva uma hora e meia. Temos outras provas com duração menores, mas mesmo assim é tudo mais longo que as corridas de BMX. São provas de 20 minutos de duração e acredito que serão nestas provas de duração menor que vou chegar na alta performance antes e conseguir alguns bons resultados. Meu objetivo e chegar em alto nível nas provas de grande performance também, mas isto vai levar mais um tempo. O importante é que estou curtindo muito e Poços de Caldas é privilegiada para este esporte, já que a cidade é cercada por montanhas, uma bela pista de XCO no Cristo, e aí elogio o ótimo trabalho feito pelo pessoal da cidade, aproveito para mandar um abraço para o Paulinho, que é o cara que mais cuida da pista. Tem ainda o trabalho da Associação dos Ciclistas de Poços de Caldas, enfim, temos muitas trilhas, muitos lugares para pedalar, mas respondendo mais diretamente sua pergunta, o principal motivo foi estar no esporte e também estar perto de casa, agora tenho filho, responsabilidade maior e no BMX precisava estar viajando para treinar e esta era a maior dificuldade, também pela questão financeira. Sei que tinha condições de tentar mais uma olimpíada, mas ficar longe do meu filho e de minha esposa, longe de casa achei que seria um alto preço pois quero ficar com a família. Estou adorando este novo desafio, claro que todo começo é muito difícil, mas estou disposto a batalhar tudo novamente.
Mantiqueira – E fisicamente, como você tem se sentido?
Renato Rezende – Quem se lembra de mim antes quando me encontra se surpreende, estou onze quilos mais magro, o corpo foi se adaptando com esta mudança de estilo, uma adaptação automática à rotina de treinos, mas estou me sentindo muito bem.
Mantiqueira – Você ganhou tudo no BMX. Onde quer chegar no mountain bike? Teremos o mesmo Renato Rezende campeoníssimo?
Renato Rezende – Quero ser campeão, quero competir em alto nível, quero chegar ao mais longe possível, só que ainda não consigo te dizer onde é possível chegar, mas estou mirando muito longe, a dedicação é a mesma nos treinos, a vontade é a mesma, está até maior, renovada, e isso é muito bom. Estou indo, onde vou chegar ainda não sei.
Mantiqueira – Você acredita ser possível chegar na seleção brasileira?
Renato Rezende – Estou filiado tanto no BMX quanto no mountain bike, mas estou começando esta corrida praticamente do zero, preciso ter resultados e sei que vai ser demorado, tenho feito algumas provas grandes, ainda encontro dificuldades, algumas provas nem consigo completar, isso é normal. Estou com a parte técnica muito avançada, mas a parte de resistência ainda não. Ainda falta muito, nas provas menores estou conseguindo me sair melhor, estas provas estão me dando ritmo, fiz até alguns pódios nestas provas menores e estou curtindo muito. Outra coisa legal é que tenho andado muito em ciclismo de estrada, já que o treino é feito na bike de speed, com pneu fininho. Fizemos uma prova em Mococa e a minha equipe Loop trabalhou muito bem e ganhei esta prova, indo no bolo até o final e na chegada dei uma sprint de BMX e deu certo. Está sendo muito legal, estou aproveitando todo o processo, realmente é difícil, mas ao mesmo tempo muito proveitoso e convido a todos a acompanharem minhas redes sociais, onde tenho mostrado um pouco desta transição, um pouco dos treinos. Ali também é possível acompanhar um pouco do meu filho Leandro, minha esposa Nath, uma pessoa muito especial que está nesta caminhada comigo, me apoiando muito.
Mantiqueira – Como você recebeu uma homenagem como a Copa Renato Rezende que acontece neste final de semana?
Renato Rezende – Muito especial ter uma competição com meu nome, muitos acham que eu sou organizador, mas não, estou ajudando um pouco na divulgação, mas realmente é bacana ter seu nome lembrado. Como você mesmo diz, os meninos se espelham em mim, querendo chegar aonde cheguei. Sempre o na pista, converso com vários meninos, sou muito grato por tudo que aconteceu em minha vida e ar um pouco disso para aqueles que estão começando é uma obrigação. Muitos chegam até mim e dizem que só entraram no BMX por minha causa, porque viram algum vídeo meu e resolveram procurar o clube aqui no parque. Isto é especial.
Mantiqueira – Você perdeu apoiadores com a troca de modalidade?
Renato Rezende – Alguns mudaram, estou buscando novos apoiadores e alguns de Poços de Caldas estão chegando. Tenho projeto da Secretaria Municipal de Esportes com apoio da prefeitura, tenho o Bolsa Atleta, Bolsa Atleta Minas, Hotel Monreale, Grupo Soitic, Oakley, Academia Olimpo, Arstop, meu primeiro patrocínio conquistado pelo mountain bike, PKS, Shimano, Penks e uma novidade de Poços que é a Casa Salles e a Poços Tec, além da Associação dos Ciclistas de Poços de Caldas, na qual sou filiado, tenho muito orgulho de representá-los. Apesar de não ser filiado ao Bicicross Poços Clube tenho uma parceria legal com eles, estamos sempre juntos.
Mantiqueira – Você segue fazendo clínicas de BMX?
Renato Rezende – Sigo fazendo sim, recentemente fiz uma em Andradas, também faço consultorias técnicas e isso me mantém no BMX, não quero sair dele e através deste trabalho estou sempre presente. O BMX é meu sangue. Sou o cara do BMX no mountain bike, que sempre vai fazer parte da minha vida e sempre vou estar presente no BMX. É importante ainda a presença do meu treinador Daniel Jorge, que muito apoio está me dando nesta transição.
Paulo Vitor de Campos